sexta-feira, 21 de agosto de 2015

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Um murro seco no estomago provocou este vómito permanente de vazio e ódio, demasiado cedo no tempo…

Remeto-me ao casulo inacabado e banho-me de lama, para esconder da alma e dos olhares o sofrimento.
São tantas as lágrimas contidas, os sorrisos de mentira, as palavras disfarçadas, que já não sei se sinto, ou se minto (?).
As pessoas vêm e vão, no redopiar da vida lá fora, (ritmo alucinante ou alucinado?). Já não sei quem são, ou quantas são, nem sei se me ofertaram, se me abandonaram ainda mais às minhas dores.
Já nem sei se me importa perceber, se me importa caminhar no empedrado de saltos altos, como um acrobata no circo das dores de um parto induzido. Já nem sei se me importa ser, ou não ser alguém. Já nem sei se tenho tempo, capacidade, força, resistência…
Se é assim tão importante ou não.
No meu casulo inacabado sinto-me bem, aconchegada, protegida do mundo, das dores desse parto inacabado, indesejado…
Talvez que eu pudesse ter sido um corpo transparente e sem sentido…
Ninguém compreende a minha raiva, (ou revolta), porque não consegui esquecer!
Ah! Alguns, (os que não têm coragem), acusam-me das acusações sentidas na pele, (de um corpo tão pequeno), que negam veemente ser loucura…
Esses, não tem coragem, nem alma!
E eu, vou vivendo os dias… Por vezes é tão impossível esquecer as mágoas, as interrogações…
Nalguns dias, nalgumas horas, assim tão de repente como uma onda que rebenta na areia da praia, volto ao meu casulo inacabado… porque não quero ser ninguém, quero esquecer que existo, que existe um outro mundo lá fora…

Queria sentir, apenas, o regresso ao ventre de uma qualquer mãe, sem a preocupação de que chegará uma hora em que é obrigatório experimentar a vida…